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A produção em série de “celebridades” descartáveis

*Por Chris Santos

A produção em série de “celebridades” descartáveis é um fenômeno notório na sociedade contemporânea. A fama, uma suposta aura que distingue certos indivíduos do universo de pessoas comuns, tem sido amplamente valorizada. Toda uma infraestrutura comunicacional é montada em torno dessas figuras: empresários, assessores de imprensa, fotógrafos, sites e revistas dedicadas a explorar suas vidas e intimidade. Mais recentemente, as redes sociais com milhões de seguidores também se tornaram parte desse aparato.

Marcas diversas investem vultuosos cachês para garantir a presença VIP desses “famosos” em eventos como festas e camarotes de carnaval, onde bastam algumas horas para que seu brilho efêmero aumente o suposto prestígio das ocasiões. No entanto, um questionamento se torna inevitável: o que essas pessoas fizeram para alcançar tal notoriedade? O tempo em que a fama era conquistada por meio de um trabalho, de talento e performance artisticamente reconhecida—como atuação, canto ou literatura—parece ter ficado para trás.

Na era atual, programas de televisão que vou chamar aqui de “fábricas de celebridades” desempenham o papel de criar ícones passageiros. Os reality shows, em especial as mais de 20 edições do Big Brother Brasil (BBB), exemplificam bem essa dinâmica. Esses programas são especialistas na produção em série de “celebridades” descartáveis, que experimentam seus 15 minutos de fama, são categorizadas como ex-BBBs, mantêm-se na mídia por um breve período e logo desaparecem. Você pode se lembrar de outros programas que existem por aí, que também são bons exemplos desse fenômeno.

Alguns ex-participantes ainda se esforçam para prolongar sua presença sob os holofotes, em muitas ocasiões recorrendo a comportamentos extravagantes. No entanto, como quase tudo na contemporaneidade, a fama é efêmera e volátil. O ciclo exige constantemente novas personalidades, abrindo espaço tanto para os recém-saídos das novas edições dos reality shows quanto para os emergentes das redes sociais.

Este cenário reflete a volatilidade como a sociedade atual, muitas vezes, trata a “fama”. É um ciclo contínuo de produção e descarte, onde a longevidade se perde em meio ao desejo incessante por novidades e entretenimento, mesmo que fugaz. Mas, será que toda essa suposta “fama” realmente importa?

*Chris Santos é uma profissional com mais de 30 anos de experiência em comunicação corporativa, assessoria de imprensa e marketing digital. Com bacharelados em Relações Públicas e em Ciências Sociais, pela USP; especialização em Gestão de Processos Comunicacionais (USP); MBA em Gestão de Marcas (Branding), pela Anhembi-Morumbi; e mestre em Comunicação e Política, pela UNIP. Tem se dedicado ao estudo de tendências nas áreas de marketing digital, jornalismo, comunicação e política e tecnologias da comunicação e informação.

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A privacidade em um mundo instagramável

*Por Chris Santos

Sabemos que os relacionamentos e comportamentos das pessoas na vida cotidiana são complexos e as alterações nem sempre são visíveis imediatamente, mesmo para quem se dedica a estudá-las. Sob o amplo conceito de “mundo contemporâneo” ou “pós-moderno”, vários fenômenos sociais são objetos de reflexão dos profissionais de áreas como a Sociologia, a Antropologia e a Psicologia.

Lançado em 1997, o SixDegrees é considerado a primeira rede social on-line do mundo, que atingiu a marca de 3,5 milhões de usuários. Hoje, os números de usuários das redes ultrapassam o patamar dos bilhões. Estima-se que o Facebook tenha 2,9 bilhões de usuários, o YouTube tenha 2,5 bilhões, enquanto o número de usuários do Instagram gire em torno de 1,4 bilhão, conforme dados do DIGITAL 2022: GLOBAL OVERVIEW REPORT.

Com o advento e o crescimento das redes sociais, o principal palco das interações cotidianas foi ampliado e talvez possamos dizer que o universo virtual ganha mais protagonismo. Muitos de nós têm “amigos” com os quais interagimos apenas por meio das redes sociais e acompanhamos as suas atividades diárias. Mas, será que refletimos sobre o quanto de nossa privacidade relevamos ou o quanto os outros revelam de sua intimidade?

Se, até bem pouco tempo, existia uma linha mais delimitada entre comportamentos públicos e os privados, podemos dizer que, atualmente, esta linha é bem mais tênue. Mesmo cercados por grupos de estranhos, as discussões de questões pessoais ocorrem no feed das redes sociais.

Como conduzir debates sobre proteção da privacidade quando o espaço doméstico, o corpo, a família, o sexo, os filhos e o trabalho são expostos diariamente em mais de uma rede social?

Mesmo que a tarefa seja difícil, existem perguntas que devemos enfrentar: o que deveria ser compartilhado abertamente ou o que deveria ser reservado para a intimidade?  Até que ponto o usuário está disposto ou consciente de que precisa gerenciar sua privacidade? Estarão as pessoas cientes dos impactos de posts e comentários em sua reputação? Como a criação de um ambiente lindo e “instragramável (esteticamente bonito e estilizado) afeta a saúde mental?

Como disse Edgar Morin, “a complexidade não é a chave do mundo, mas o desafio a enfrentar, por sua vez, o pensamento complexo não é o que evita ou suprime o desafio, mas o que ajuda a revelá-lo e às vezes a superá-lo”.

Por isso, acredito que as perguntas apresentadas neste artigo lançam as sementes para uma reflexão sobre a evolução, as possibilidades, as limitações e os perigos da sociabilidade em rede, que serão pontuados em artigos futuros no Reflexões do Dia, inclusive por meio de resenhas de livros.

*Chris Santos é uma profissional com mais de 30 anos de experiência em comunicação corporativa, assessoria de imprensa e marketing digital. Com bacharelados em Relações Públicas e em Ciências Sociais, pela USP; especialização em Gestão de Processos Comunicacionais (USP); MBA em Gestão de Marcas (Branding), pela Anhembi-Morumbi; e mestre em Comunicação e Política, pela UNIP. Tem se dedicado ao estudo de tendências nas áreas de marketing digital, jornalismo, comunicação e política e tecnologias da comunicação e informação.

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