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Internet das Coisas, a pecuária de precisão e a sustentabilidade

*Por Werter Padilha

Tem aumentado o número de pecuaristas brasileiros interessados e dispostos a investir em tecnologias associadas ao que denominamos de pecuária de precisão.  Qualquer ação que visa otimizar os resultados produtivos e reduzir os custos operacionais sempre são bem-vindos.  Para isso, pesquisadores têm buscado nas últimas décadas alcançar êxito por meio de diferentes tecnologias de sensoriamento, rastreabilidade, controle e automação. Mas, atualmente, o agronegócio precisa muito mais que apenas monitoramento. É cada vez mais relevante garantir a excelência e responder qualquer questionamento em relação à origem da produção.

Na COP 28, 28ª Conferências das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, realizada em Dubai, um programa de identificação individual e a rastreabilidade do gado foi apresentado pelo governo do Pará, baseado na união entre governo estadual e empresas em busca de transparência e integridade de toda a cadeia produtiva, e garantia de respeito às regras sanitárias, fundiárias e socioambientais, contribuindo para combater o desmatamento. A JBS, grande player global integra este programa do Pará e anunciou investimentos. Já a Marfrig, outra potência desse mercado, também noticiou que aportará R$ 100 milhões em programas de rastreabilidade individual do rebanho bovino. Outra iniciativa em andamento é liderada pela unidade Embrapa Pecuária Sudeste, de São Carlos (SP), e foca o rastreamento em tempo real dos animais indoor e nos piquetes outdoor. Essa ação já está na fase de testes e sendo apresentada a grupos de pecuaristas convidados.

Tudo isso porque a rastreabilidade desempenha um papel fundamental na garantia da qualidade e segurança dos produtos de origem animal, uma exigência dos mercados brasileiro e internacional. Ferramentas e soluções tecnológicas que permitam monitorar em tempo real o desempenho dos animais, identificando problemas precocemente e tomando medidas para corrigi-los já são a muito esperadas pelos pecuaristas. Com isso, é possível aumentar a produtividade da fazenda, melhorar a qualidade do leite e carne produzidos. A busca de respostas mais precisas a serem dadas ao mercado consumidor urge.

Como garantir que o produto que chega às gôndolas brasileiras ou destinado à exportação esteja isento de passivo socioambiental? Como garantir que a carne não foi produzida, em todo o seu ciclo de vida, em terras com litígios ambientais ou de desmate ilegal?  Como assegurar que a mão de obra responsável pelo manejo gado não sofreu com trabalho escravo ou infantil?  Para responder estas perguntas assertivamente, os pecuaristas precisam das garantias que as tecnologias de monitoramento e de rastreamento animal podem dar. Sem isso, não há futuro comercial para estes rebanhos.

Do pasto à mesa

Não vejo como responder a estas demandas sem o uso da internet das coisas (IoT) que permite ser cada vez mais eficiente e preciso, acompanhando a vida do bezerro desde o seu nascimento até sua fase adulta e abate. É fundamental monitorar todos os estágios do processo de produção e distribuição, desde a fazenda até a mesa do consumidor, garantindo que o gado não traz consigo os passivos ambientes e sociais mencionados.

Assim, sensores nos animais e dispositivos conectados via cloud são fundamentais para coletar dados em tempo real sobre vários parâmetros: habitat da criação, bem-estar animal, seu crescimento e peso, cuidados no transporte e, até mesmo, condições de armazenamento da carne. As informações devem estar registradas em bancos de dados, disponibilizadas de forma certificada e acessível a todas as partes envolvidas na cadeia produtiva, proporcionando maior transparência e confiabilidade.

A pecuária de precisão tem muito a se beneficiar das tecnologias de internet das coisas, porque são recursos que permitem que os proprietários de fazendas monitorem e gerenciem melhor seus rebanhos. Entretanto, um dos desafios da Internet das Coisas (IoT) na pecuária é garantir o funcionamento na realidade das condições do campo, seja em ambientes indoor como também nos ambientes abertos (outdoor), garantindo conectividade local e cloud, baixo custo de implementação e grande facilidade de instalação e uso. 

Rastreabilidade com beacons

Para este desafio de sistema de monitoramento, o dispositivo indicado é o beacon, junto com gateways e plataforma de monitoramento.  Os beacons operam sob a tecnologia Bluetooth low energy (BLE) que tem se disseminado cada vez mais graças a pluralização dos smartphones e inúmeros devices.

Beacons muito bem construídos, robustos para suportar a dureza do ambiente rural, com baixo consumo de energia, garantindo sua longevidade operacional, e com inteligência sistêmica para inferir e adaptar-se ao ambiente em que está.

Gateways que permitam captar e transmitir as informações a plataformas locais e em nuvem, independentemente da geografia onde as soluções sejam aplicadas.  Para completar, uma plataforma de software robusta e muito inteligente para dar as respostas tão desejadas.

Identificar o animal desde o seu nascimento, fornecer a localização deste em tempo real e seu histórico durante todas as suas fases produtivas, responderá as primeiras e mais importantes perguntas: onde está ou esteve o animal? Os locais por onde ele passou estão isentos dos passivos ambientais e sociais?

Muito trabalho manual, atualmente, é praticado, sem garantias de confiabilidade e exposto a possibilidades de erros. A meta é garantir os resultados almejados, que podem ser fortemente ampliados com integrações a sensores que meçam o consumo de água, de alimentação, além de incluir no projeto a conectividade com outros serviços e soluções de mercado.  Um verdadeiro ganha-ganha para todos os envolvidos.

Um projeto deste nível é sucesso certo quando o trabalho é realizado em conjunto por zootecnistas, veterinários, produtores e gestores com a equipe de especialistas em tecnologia. Afinal, a pecuária de precisão é uma área de conhecimento multidisciplinar.

Garantia de origem e de qualidade

A participação do agronegócio no total do PIB brasileiro ficou em 24,8% em 2022 e a meta é ampliar esta representatividade, estabelecendo um ritmo constante de crescimento nos próximos anos. Além disso, a pecuária brasileira já é considerada uma das mais produtivas em todo o mundo e o país é um dos maiores exportadores de carne bovina do planeta.

Por isso, o desenvolvimento de um sistema de identificação e rastreamento animal de baixo custo com tecnologia genuinamente brasileira ajudará o produtor rural a melhorar o seu planejamento, manejo, monitoramento do gado e gerenciamento das atividades estratégicas da propriedade, fornecendo dados que elevarão a pecuária nacional a um novo patamar. Entre os dados estão: identificação, localização e rastreabilidade para que se maximize os resultados operacionais, proporcionando mais eficiência e redução de custos.

A rastreabilidade das condições de criação desta cabeça de gado vai agregar valor à produção de carne brasileira, pois o criador poderá armazenar uma série de dados, garantindo que o seu produto foi criado nas condições sanitárias e de manejo indicadas por órgãos brasileiros e internacionais.

A partir dessas informações registradas, será possível fornecer aos consumidores dados detalhados sobre a origem do gado, como local da criação, alimentação fornecida e cuidados específicos. Essa transparência contribuirá para o fortalecimento da confiança dos consumidores na qualidade e segurança dos produtos de origem animal do Brasil.

A rastreabilidade é uma crescente necessidade para exportação, uma vez que países compradores têm apresentados exigências mais rigorosas quanto à segurança alimentar. Ao oferecer carne com rastreabilidade comprovada, o Brasil ganha vantagem competitiva nesse mercado globalizado e reforça sua posição como um produtor confiável, socialmente e ambientalmente responsável.

*Werter Padilha, CEO da Taggen Industries e Services e Conselheiro da ABES – Associação Brasileira das Empresas de Software

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Business Intelligence proporciona lucratividade e sustentabilidade ao agronegócio

Por Clayton Montarroyos, CEO da In – Inteligência de Negócios

O Brasil é reconhecido mundialmente como um importante player no setor de agronegócio. O país lidera a exportação mundial de milho; é o maior produtor de laranja doce do mundo e líder na exportação de suco de laranja; é o segundo maior produtor mundial de soja e de carne bovina.

A lista de culturas agrícolas nas quais os produtores brasileiros se destacam é bem mais ampla, mas o que quero chamar a atenção é para a relevância econômica do Agronegócio para o crescimento do PIB brasileiro e para a importância da introdução do conceito 4.0 no setor, com a adoção de tecnologias disruptivas como drones, inteligência artificial, computação na nuvem e internet das coisas, gerando muitos mais dados em tempo real.

Um estudo conduzido por meio de uma parceria entre a Embrapa , o Sebrae e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) revelou que 84% dos agricultores brasileiros já utilizam ao menos uma tecnologia digital como ferramenta de apoio na produção agrícola e que um número crescente de produtores estão ávidos para conhecer mais sobre as novas tecnologias. Eles querem aprender a utilizá-las para conquistar novos mercados, reduzir custos, diminuir os impactos no meio ambiente, reduzir os desperdícios e agregar sustentabilidade.

Se alguns recursos tecnológicos ainda estão distantes dos produtores, as ferramentas e metodologias de Business Intelligence (BI) já estão à disposição deles para ajudar a gestão na tomada de decisões tanto ao nível operacional quanto no estratégico, criando condições para melhorar o planejamento, entender os impactos da conjuntura e, até mesmo, prever tendências que afetam os resultados dos negócios.

Posso citar como exemplo um case de sucesso da Cooperativa Santa Clara , com sede localizada em Carlos Barbosa (RS), cuja jornada dos dados começou em 2014 e tem evoluído, desde então, em todas as suas unidades de negócios como, por exemplo, para acompanhar a qualidade do leite e todos os parâmetros analisados diariamente; para monitorar o processo industrial e a logística na cadeia dos laticínios.

A Santa Clara promoveu um processo de alfabetização em dados, ou seja, levou conhecimento em análise de dados para sua equipe e, hoje em dia, não imagina a gestão da cooperativa sem os indicadores que o sistema de BI fornece aos diferentes setores, entre eles a produção, o financeiro e o comercial.

O agronegócio lida com produtos perecíveis, é afetado por mudanças climáticas no Brasil e em outras regiões do planeta, só para citar dois fatores críticos.  Assim, estas características voláteis fazem com que os dados sejam essenciais em todas as etapas, desde o planejamento até o escoamento da produção com foco nos mercados interno e de exportação, lembrando que este ciclo se repete periodicamente.

Os produtores já possuem um amplo conjunto de dados internos e externos para analisar e iniciar um processo de alfabetização de dados com os seus colaboradores a fim de preparar o caminho para que a implementação das tecnologias disruptivas traga retorno mais rapidamente.

A inteligência de negócios baseada nas ferramentas de BI deve ser usada como uma solução fundamental para a análise de dados e o fornecimento de informações necessárias aos tomadores de decisão em todos os níveis na cadeia do agronegócio.

A aplicação de ferramentas e metodologias de BI, no entanto, ainda não é satisfatória quando se trata de pequenos e médios produtores, embora haja um grande potencial, que precisa ser estimulado para garantir a lucratividade, a sustentabilidade e a competitividade do setor como um todo e de cada empresa que nele atua. Não há tempo a perder para se criar um agronegócio data driven no Brasil.

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